A Ossada encontrada em pantano proximo a vila Margarida
- Redação

- 11 de set.
- 3 min de leitura

A terra na Chácara proximo a vila Margarida, em Maracaju, é úmida e pesada, cheia dos segredos que só o silêncio do interior sabe guardar. Foi esse silêncio que um arrendatário quebrou na manhã de segunda-feira. Ele não procurava mistérios; procurava talvez um animal perdido ou apenas vistoriava os limites da propriedade, mas o que encontrou foi a ponta de um fio de um novelo tenebroso: uma ossada humana à beira do brejo.
O cenário era uma pintura macabra. Entre a vegetação rasteira e a água parada, os ossos branqueados pelo sol e pela ação impiedosa do tempo jaziam em uma posição que não era de descanso, mas de abandono. Um braço estendido para cima, os dedos da mão invisíveis apontando para o céu, como um último e mudo apelo de quem já se foi. Era a imagem de um corpo que não chegou ali por vontade própria.
O delegado chegou ao local com a postura cautelosa de quem sabe que a primeira impressão é uma armadilha. Enquanto a perícia isolava a área, ele observava, seus olhos percorrendo a cena como se lessem um livro de páginas rasgadas. “Os ossos do braço estavam para cima, aparentando que o corpo havia sido arrastado,” comentou, mais para si mesmo do que para os agentes. Mas um bom policial não se apega à primeira história. “Contudo, animais poderiam ter deslocado o corpo também,” ponderou, equilibrando a intuição com a fria razão que o trabalho exige.
A vítima era um homem. A barba, ainda visível em alguns fragmentos do que um dia foi um rosto, dava-lhe uma identidade preliminar, um rascunho de quem ele era. Por volta dos 40 anos. Idade de ter história, de ter deixado marcas no mundo, de ter uma família que, agora, talvez estivesse há mais de um ano sem respostas, alimentando a angústia de um desaparecimento.
E essa é a chave do quebra-cabeça. O estado avançado de decomposição fala de um crime antigo, de um segredo bem guardado por meses. O brejo não matou ninguém. Ele foi apenas o coveiro de ocasião, o destino final de uma jornada violenta. A linha mestra da investigação é clara para o delegado Paiva: aquele homem foi morto em outro lugar. Alguém, em um ato de covardia final, carregou o corpo até aquele brejo na Vila Margarida, na esperança de que a natureza fizesse o trabalho sujo de apagar todos os vestígios. Quase deu certo.
Agora, a investigação migra do campo úmido para o laboratório estéril. A ossada foi encaminhada para a perícia, onde a ciência assumirá o papel de detetive. O exame de DNA é a última esperança de dar um nome àqueles ossos e, assim, um ponto final à agonia de uma família. O delegado já emitiu o chamado: convocou os familiares de desaparecidos para coletarem material biológico. É um apelo sombrio, que mistura a dor da perda com o lampejo mínimo da esperança de closure.
Enquanto os resultados não saem, a pergunta paira no ar úmido de Maracaju: quem era aquele homem de barba? Quem o matou e por quê? E quem, na calada da noite, arrastou seu corpo até a beira do brejo, achando que poderia enterrar a verdade junto com a vítima?
O pântano quase engoliu o corpo, mas cuspiu de volta os ossos. Cabe agora à Polícia Civil desenterrar a verdade.









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