O golpe na República: Uma Transição Imposta pela Elite
- Redação

- há 4 dias
- 2 min de leitura

O 15 de novembro de 1889 é oficialmente marcado no calendário nacional como o dia da Proclamação da República. No entanto, por trás da imagem de um marco cívico, a historiografia contemporânea revela um evento complexo e pouco democrático: a instauração do regime republicano no Brasil não foi fruto de uma ampla mobilização social, mas sim o resultado de um golpe de Estado executado por uma parcela restrita da elite militar e civil, que impôs uma nova ordem política à nação sem a participação do seu povo.
Em primeiro plano, é essencial caracterizar o movimento de 1889 como um golpe. A transição do regime monárquico para o republicano não nasceu das ruas ou de um plebiscito. Foi uma ação rápida e decisiva, orquestrada por um grupo de militares, com o Marechal Deodoro da Fonseca à frente, e apoiada por ideólogos republicanos. O caráter forçado da mudança é evidenciado pela própria deposição do imperador, Dom Pedro II, que, sem chance de reação, foi expulso do país juntamente com sua família. Essa medida drástica, somada à ausência de qualquer conflito armado de grande escala, consolida a natureza de um golpe palaciano, que visava substituir uma elite de poder por outra.
Ademais, a ausência de participação popular é o elemento que mais evidencia o caráter elitista e excludente do processo. A sociedade brasileira da época era majoritariamente agrária, com altos índices de analfabetismo e uma população desconectada dos debates políticos da capital do Império. A abolição da escravidão, ocorrida apenas um ano e meio antes, em 1888, havia criado fissuras nas bases de sustentação da monarquia, descontentando setores da elite agrária, mas não significou o engajamento das massas libertas no movimento republicano. O povo assistiu à mudança de regime "bestializado", como apontou o escritor Aristides Lobo, numa famosa passagem, reforçando a ideia de que a República nasceu sem o povo, e não para o povo.
Por fim, as próprias motivações dos golpistas corroboram a tese de uma mudança conduzida "de cima para baixo". A longa insatisfação dos militares com o governo de Dom Pedro II, somada ao ideal de modernização política e administrativa defendido pelos republicanos civis, criou o caldo de cultura necessário para a conspiração. No entanto, esses eram anseios de grupos específicos, que se sentiram fortalecidos e capazes de tomar o poder. A proclamação foi, portanto, a solução encontrada por essas facções para impor seu projeto de país, à revelia da vontade da maioria da população.
Em síntese, a República brasileira, cuja data é hoje um feriado nacional, teve uma gênese conturbada e pouco democrática. Proclamada a partir de um golpe, ela foi um empreendimento de elites que, aproveitando-se do desgaste da monarquia, efetuou uma mudança de regime sem construir uma base de apoio popular sólida. Compreender esse contexto é fundamental para analisar não apenas o evento em si, mas também os desafios e as contradições que marcaram a trajetória republicana do Brasil desde o seu início.








Comentários