Crime em Campo: A Entidade, o Ministro e os 6,5 Milhões
- Redação
- 10 de abr.
- 2 min de leitura

Era para ser apenas mais um capítulo da já conhecida história de excessos na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). No entanto, a matéria assinada por Allan de Abreu na revista Piauí, intitulada "As extravagâncias sem fim da CBF", expôs uma engrenagem bem mais sofisticada — e sombria — de poder, influência e dinheiro.
No centro da trama, Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, enfrentava sérios questionamentos sobre a legalidade de sua eleição. Em dezembro de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu afastá-lo do cargo. A decisão parecia o início de uma renovação necessária. Mas o jogo estava longe de acabar.
Rodrigues agiu rapidamente. Em vez de se submeter ao afastamento, recorreu aos tribunais superiores em Brasília. Para isso, liberou 6,5 milhões de reais dos cofres da CBF para remunerar seu aliado, o advogado Pedro Trengrouse — embora ele já nem constasse oficialmente como advogado da entidade.
O dinheiro foi pago. E pouco tempo depois, Trengrouse desembarcava na capital federal com uma missão: montar a estratégia que devolveria Rodrigues ao poder. O caminho escolhido envolveu um processo interposto pelo PCdoB, partido do secretário-geral da CBF, Alcino Reis Rocha.
O detalhe crucial? O recurso caiu justamente nas mãos do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Um verdadeiro "gol de placa" para Rodrigues.
E a conexão que gerou ondas em Brasília era ainda mais inquietante: meses antes, a CBF havia firmado um contrato com o Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), instituição fundada e ainda administrada por familiares do ministro. Entre os beneficiados na CBF, pelo menos seis nomes ligados ao IDP haviam conseguido posições estratégicas dentro da confederação.
A parceria entre CBF e IDP parecia prosperar, como um time que não perde nenhuma partida. Mas na arena política, a jogada levantou suspeitas.
No Senado, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) subiu à tribuna para denunciar o que classificou como um potencial conflito de interesses. Segundo ele, a assinatura do contrato entre a CBF e o IDP, seguida da decisão favorável de Gilmar Mendes, feria o princípio da imparcialidade da Justiça e minava a confiança pública nas instituições.
"A proximidade temporal entre a assinatura do contrato e a decisão do STF agrava ainda mais a percepção de um potencial conflito de interesses", disse Girão em tom indignado.
Nos bastidores, a sensação era de que o futebol brasileiro, já tão maltratado, havia se tornado peça de um tabuleiro de poder ainda mais sujo e perigoso. Não se tratava apenas de extravagâncias financeiras: a denúncia narrava um crime institucional — onde a lealdade ao interesse público foi driblada, e a Justiça, transformada em árbitro suspeito de um jogo de cartas marcadas.
No fim, o apito soou para confirmar: no campo da CBF, quem manda nem sempre é a regra. E, muitas vezes, nem é o povo.
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